Publicada na edição de 4 a 10 de outubro de 2013 do Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC Comunicações Ltda.
Dificuldades, desrespeito e
frustração. É isso o que as mais cheinhas encontram ao tentar comprar roupas
bonitas e modernas
Em um mundo em que qualquer pessoa fora
do padrão imposto pela sociedade sofre diversos tipos de preconceitos ou
segregações, não seria diferente com as mulheres gordas. Programas de
televisão, revistas femininas, homens e mulheres as julgam por estarem “acima
do peso ideal”. Esse, infelizmente, é um comportamento generalizado em nossa sociedade,
que gera mal estar à maioria das mulheres. A indústria têxtil faz a sua parte e
produz, na grande maioria, roupas que atendem apenas a parte do mercado: as
mulheres jovens e magras.
“É uma indústria que atende apenas à
média”, acredita a psicóloga Cláudia Sarti. “Tudo e todos que não se encaixam
no ‘padrão’ são desfavorecidos. Todos perdem: o mercado, que por não atender a
todas as pessoas deixa de aumentar o seu faturamento, e os consumidores, que têm
poucas opções”. Mas afinal, por que as roupas para mulheres gordas são vendidas
em lojas diferentes, chamadas Plus Size? E por que a maioria dessas lojas não
oferece peças modernas?
Traumatizando
“Quando eu era mais nova e fazia
compras com a minha mãe, ela queria entrar em lojas de roupas modernas, mas eu
sempre dizia: ‘não vou entrar, não vou encontrar nada’. Infelizmente, ainda
hoje eu passo por isso, pois as marcas joviais, que têm a minha cara, não oferecem
o meu tamanho. Me tornei uma mulher confiante de uns anos para cá, mas quando
era mais nova ficava triste, chorava e tentava emagrecer a todo custo. Até
remédio para emagrecer eu já tomei”, confessa Juliana Pereira.
A
dificuldade em encontrar roupas adequadas é apenas um dos reflexos de uma
sociedade que não poupa críticas às mulheres que vestem 44 ou mais. A psicóloga Cláudia Sarti acredita que essa situação
pode prejudicar a saúde de jovens, “caso a autoestima e a autoimagem estejam,
por algum motivo, abaladas”.
Por
que é separado?
O
consultor de moda Luis Araujo explica que o mercado passou a produzir os
tamanhos P, M, G, GG e EXG para as peças a partir do tamanho 42. “Essa
separação foi necessária porque a modelagem, o recorte da roupa, é diferente
para os tamanhos maiores. Enquanto é comum aumentar quatro centímetros na
lateral e dois centímetros no comprimento de cada peça, na modelagem Plus Size a
modificação é completamente diferente – já que as pessoas engordam, mas não
crescem na mesma proporção”. Portanto, se os modelos são pensados de maneira
diferente, é comum que sejam produzidos em linhas diferentes.
Deixa
a desejar
A jovem Juliana alega que já encontrou boas
calças e blusas de frio em lojas Plus Size, mas que, no geral, é difícil
encontrar peças joviais. “Me visto bem, mas acho que daria para me vestir
melhor se eu encontrasse as roupas certas. Tenho que procurar bastante para
achar algo legal”, conta.
O consultor de moda admite que muitas
lojas Plus Size não trabalham com modelos modernos. “Algumas produzem roupas
largas e sóbrias, com um apelo para as senhoras – o que é um terrível engano,
pois atualmente as mulheres mais velhas também preferem modelos atualizados.
Boas lojas Plus Size devem ter uma abordagem jovem, com vestidos, saias,
camisetas e blusinhas para mulheres modernas”.
No
exterior
“Em países desenvolvidos a situação é
bem diferente, pois a indústria é muito mais antenada ao mercado consumidor e
parece estar mais disposta a entregar produtos adequados”, acredita a
psicóloga.
Juliana conta que quando viajou para os
Estados Unidos se identificou e comprou várias peças. “Espero que essa cultura
chegue ao Brasil o quanto antes, pois são poucas as pessoas que podem viajar
para encontrar roupas”, diz.
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