sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Violência doméstica: a culpa não é sua

Publicada na edição de 2 a 8 de agosto de 2013 do Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC Comunicações Ltda.


O agressor usa o medo, a vergonha e a culpa para manipular a mulher e evitar que ela faça uma denúncia

O que era para ser um relacionamento saudável, baseado em carinho, compreensão e respeito se torna um pesadelo. De uma hora para outra, a mulher deixa de reconhecer o seu parceiro, o homem amoroso que a fazia feliz, e não consegue se ver livre dessa situação.
Segundo recente pesquisa, realizada pelo DataSenado, aproximadamente 20% da população feminina já sofreu algum tipo de agressão. Destas, 31% ainda convivem com o agressor e 14% ainda sofrem algum tipo de violência. Mesmo completando, na próxima quarta-feira, 7, sete anos da sanção da Lei Maria da Penha, ainda há neste país muitas mulheres que sofrem agressões dentro da própria casa. E o pior, se sentem culpadas por isso.

O problema é comigo
O agressor dificilmente demonstra a outras pessoas ser um cara violento. Ele expressa sua agressividade apenas com a mulher e em situações em que ela não consegue se defender plenamente. Algumas chegam a pensar que se contarem que estão sendo agredidas, ninguém irá acreditar. Então a mulher passa a assimilar que ela é a causadora de toda a raiva e estresse e se pergunta onde pode melhorar para sair dessa situação. “O agressor põe a culpa na vítima, provocando sentimentos de frustração e vergonha difíceis de serem superados” afirma a psicóloga clínica Mariagrazia Marini.

Ele não é violento
Muitas mulheres convivem com homens que as menosprezam, xingam e as ofendem, mesmo que nunca as tenham agredido fisicamente. A violência verbal é uma das piores formas de violência, atitude desrespeitosa que causa infelicidade e pode levar a depressão. “As mulheres jamais devem se sentir culpadas pelo desequilíbrio do companheiro, precisam sim fazer valer os seus direitos e exigirem respeito”, aconselha a psicóloga.

Mais uma chance
Ele fica nervoso, quebra tudo em casa e agride a companheira, mas no dia seguinte pede desculpas e garante que nada daquilo irá acontecer novamente. Não acredite em palavras, a menos que esse homem se proponha a buscar ajuda, realizar um tratamento e demonstrar realmente que quer se curar do problema. Do contrário, a intenção dele é confundir e enganar. “Muitos agressores acham que a violência é o único meio que têm para se expressar, portanto precisam de ajuda psicológica”, ressalta Mariagrazia.

E os filhos?
Sempre que a mulher pensa em resolver a sua situação, ela coloca os filhos em primeiro lugar. Só que de maneira errada. Pensar no bem das crianças é dar a elas a possibilidade de crescer longe de um cenário de agressões e desrespeitos. Vivendo sob esse clima, os pequenos tendem a crescer assustados, traumatizados e até mesmo violentos. É também pelo bem dos filhos que a mulher deve se afastar do agressor até que ele mude.

A culpa é da bebida
Se ele se torna agressivo quando bebe ou usa drogas, esse é mais um motivo para buscar ajuda. “Em geral, ciúmes, separação, traição, falta de dinheiro e o uso de drogas levam os homens a cometer violência. É preciso ter consciência de que o comportamento vai se repetir e dialogar e motivar o agressor a buscar ajuda. Se não houver resultado, a melhor alternativa para a saúde de todos é denunciar”, aconselha a psicóloga.

Vergonha de contar
O primeiro desafio para acabar com a violência é acabar com o segredo. Por isso há telefones, órgãos e locais seguros onde a mulher pode desabafar e pedir ajuda. Mesmo que isso já aconteça por anos, saiba que você não merece sofrer mais nem um minuto. Dê o primeiro passo.





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