Publicada
na edição de 2 a 8 de agosto de 2013 do Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC
Comunicações Ltda.
Devemos
continuar impedindo as meninas de jogarem futebol e os meninos de brincarem de
casinha?
Antes mesmo do nascimento da criança os
pais preparam o quarto, compram roupinhas e brinquedinhos femininos ou masculinos, de acordo com o sexo do bebê. Se
for menino, tons azuis, carrinhos, aviões, bolas, coisas voltadas aos esportes.
Se for menina, tons de rosa, bonecas, casinhas, panelinhas e flores. Com o
crescimento da criança, os pais passam – naturalmente – a classificar com mais
força as atitudes esperadas delas, de acordo com o seu sexo. Mas delimitar as brincadeiras
é algo saudável? As meninas não podem brincar com os brinquedos dos meninos? E
eles, os pequenos homenzinhos, não podem brincar de boneca, casinha e panelinha,
se quiserem? Esse é um paradigma social que precisa ser repensado pelos
adultos.
“Atualmente,
a maioria das mulheres pagam as próprias contas e são chefes de família. E
muitos homens estão assumindo tarefas domésticas. Se nós adultos ensinarmos às
crianças que o lugar da mulher é em casa, cuidando dos filhos, e o lugar do
homem é em carros e helicópteros, como poderemos exigir no futuro que as
garotas estudem e invistam em suas próprias carreiras, por exemplo?”, questiona
a psicopedagoga Betina Serson.
Lojas
de brinquedos
Tudo começa nas lojas. Elas separam
nitidamente quais passatempos são para os meninos e quais são para as meninas. Assim como as crianças, os pais não
veem problemas nessa atitude – que acaba gerando um preconceito inconsciente, percebido
apenas quando o menino se interessar por uma panelinha ou a menina por uma bola.
“Acredito que os pais não têm conhecimento de quanto uma criança pode
absorver de aprendizado e o quanto pode assimilar com qualquer que seja o brinquedo.
As diferentes atividades desenvolvem noções de organização, distinção, espaço e
tempo”, explica a psicopedagoga clínica Fabíola Batista.
Tabu
Qual
seria, então, o problema de uma mãe comprar uma vassourinha de brinquedo para o
seu filho? “Não vejo mal nenhum isso”, alega Gorete Oliveira, mãe de Lucas, de quatro
anos. “Ele interage com tudo que temos em casa, inclusive com a vassoura, só
que ela é muito grande pra ele. Comprei então uma pequena e ele brinca com ela,
finge varrer a casa. Quando crescer, eu espero que ele ajude na limpeza e não
tenha ‘medo’ da vassoura, como se fosse um objeto exclusivo das mulheres. É um
absurdo pensar que só as meninas podem brincar de varrer”, argumenta Gorete.
A psicopedagoga Betina Serson acredita
que a segmentação das atividades é prejudicial para a formação das crianças, pois
“quando crescerem, meninos e meninas trabalharão juntos e dividirão as mesmas
tarefas”.
Meu
filho não
Para muitos
pais é mais fácil aceitar a sua filha jogando bola do que o seu filho brincando
de casinha. Afinal, porque com os meninos o tratamento é tão
diferente? “Apesar de ter mudado bastante, a nossa sociedade ainda é muito
machista”, afirma Fabíola Batista. “Existe um preconceito, mesmo que inconsciente,
e um medo de que a criança faça uma escolha pessoal em função daquilo que
brinca”, explica a psicopedagoga.
Sexualidade
“As crianças se interessam por
novidades, brinquedos coloridos e barulhentos. Não é porque o menino brinca com
uma panelinha rosa ou porque a menina joga futebol na rua que a sua sexualidade
será mudada”, afirma a psicopedagoga Valeria Tiusso.
É natural que os meninos se envolvam em
brincadeiras que exijam atividades físicas e mobilidade corporal, como lutinhas
e esportes radicais, enquanto é natural que as meninas prefiram brincar de
casinha e simular cuidados com as suas bonecas, como se fossem suas filhas. Mas,
caso os pequenos queiram diversificar as brincadeiras, a dica é respeitar e
incentivar. O contato com os brinquedos faz com que a criança absorva diversos conhecimentos
benéficos para o seu crescimento.
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