Publicada na edição de 05 a 11 de setembro de 2014 do
Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC Comunicações Ltda.
A autora e suas obras não são esquecidas na literatura e
na educação – mesmo 50 anos após a sua morte
Cecília Meireles foi uma das maiores poetas,
professoras e sonhadoras que o Brasil já viu. Uma mulher diante de seu tempo,
defensora de melhorias na educação pública. Apaixonada pelas palavras e pelas
pessoas, Cecília fazia amigos por onde passava. “Basta-me um pequeno gesto, feito
de longe e de leve, para que venhas comigo e eu para sempre te leve” (trecho extraído
do poema Timidez).
Nascida em novembro de 1901, a carioca
Cecília Meireles se viu órfã muito cedo e foi criada pela avó - quem lhe apresentou
o mundo da literatura e do folclore. Aos nove anos, começou a escrever poesia e
aos dezoito publicou o seu primeiro livro, “Espectros”.
Com vinte e um anos casou-se e teve
três filhas. Anos depois, seu marido, que sofria de depressão, cometeu o
suicídio. Cecília não desanimou. Seguiu se desenvolvendo como professora, poeta
e cronista, com publicações periódicas em jornais cariocas. Aos 39 anos voltou
a se casar, viajou pela Europa e Índia e traduziu diversos clássicos, como o livro indiano “As mil e uma
noites”.
Mesmo
50 anos após a morte de Cecília, sua produção e legado jamais foram postos de
lado ou esquecidos. “Eu deixo
aroma até nos meus espinhos. Ao longe, o vento vai falando de mim. E por
perder-me é que vão me lembrando, por desfolhar-me é que não tenho fim” (trecho
extraído do poema Motivo da Rosa).
Escritora
premiada
Autora de mais de 60 livros, Cecília
Meireles é reconhecida por muitos dos seus poemas voltados às crianças. O livro
“Ou isto ou aquilo” expõe os encantos do mundo para as crianças, e é
considerado um dos mais belos clássicos da poesia brasileira.
Para o público adulto, o livro “Janela
Mágica” foi uma de suas publicações de maior sucesso, pois reuniu diversas crônicas
que convidam o leitor a ver o cotidiano a partir de novas perspectivas.
Em decorrência de suas publicações e
estudos, Cecília ganhou diversas homenagens, inclusive o Prêmio Machado de Assis
- principal prêmio literário brasileiro, oferecido pela Academia Brasileira de
Letras, em 1965.
Professora
em primeiro lugar
O que pouca gente sabe é que Cecília
Meireles foi professora e uma grande fomentadora do movimento da Escola Progressista.
A iniciativa, que ganhou impulso no Brasil na década de 1930, é favorável a
autonomia dos alunos e o incentivo ao seu desenvolvimento físico, intelectual e
moral.
“Se visse a educação pública hoje
oferecida à população, Cecília se inquietaria. Ela sempre lutou por escolas que
estimulem a criatividade e a curiosidade das crianças, para que elas não
repitam o que o dizem os adultos, mas sim sejam incitadas a perceber o mundo
através de seus próprios gostos”, conta Yolanda Lima Lobo, doutora em educação
e autora de livros sobre Cecília de Meireles.
Além de um local para aprender as
matérias básicas, a escola também deveria ser “onde as crianças tenham contato
com artistas, músicos e escritores, a fim de expandir as suas perspectivas de
futuro”, explica Yolanda.
Para
sempre
A produção da artista é atemporal, ainda
hoje contemporânea. Cecília não escondia o afeto que tinha com as pessoas, que
foi o que a impulsionou para defender melhorias na educação e o que acreditou
ser a base da formação de qualquer ser humano.
“Sua paixão pelas palavras e letras a
possibilitou externar a sua vasta compreensão do ser humano”, aponta Yolanda. O
contraste entre sua delicadeza e força, mansidão e coragem, inteligência e
capacidade de ensinar, a reflete hoje como uma escritora ímpar.
“Na quermesse da miséria, fiz tudo o
que não devia: se os outros se riam, ficava séria; se ficavam sérios, me ria” –
Cecília Meireles (trecho extraído do poema “Confissão”).
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