terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Manifestações de patriotismo não podem parar

Publicada na edição de 27 de junho a 03 de julho de 2014 do Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC Comunicações Ltda.

Brasileiros demonstram seu amor pela pátria torcendo pela seleção, refletindo a política e respeitando uns aos outros

De quatro em quatro anos, as pessoas, os carros e as ruas são cobertos de verde e amarelo. A bandeira do Brasil passa a ser vista em todos os lugares, e os brasileiros se reúnem para assistir futebol. Nesse período, o patriotismo é manifestado fortemente: todos desejam que o seu país seja o melhor do mundo.
Mas, não é apenas em Copas do Mundo que a força do povo brasileiro é evidenciada. Recentemente, em junho de 2013, manifestações em todo o país entraram para a história: milhares de pessoas mostraram-se patriotas protestando pela resolução de diversos problemas sociais.
Segundo o dicionário Houaiss, patriota é aquele que ama e zela por seu local de origem. Aquele que se preocupa com a precariedade da educação e da saúde pública, com os problemas sociais e políticos do Brasil, tem orgulho do futebol, da culinária e das manifestações culturais brasileiras é, portanto, patriota.

O patriotismo no Brasil
Uma característica muito forte dos cidadãos norte-americanos é o patriotismo. Nos Estados Unidos, é comum ver bandeiras do país hasteadas em casas e estabelecimentos – sem a necessidade de qualquer evento ou data de comemoração. Há, inclusive, muitas pessoas que se predispõem a ir a guerras, pondo em risco a própria vida, em nome do seu país. No Brasil, essas características não são tão evidentes.
Segundo a psicóloga social Nanci Gomes, da Universidade de São Paulo, isso acontece porque durante o período de ditadura militar, os símbolos nacionais – como a bandeira e a letra do hino – foram explorados pelos ditadores para fazer valer a ideia de que a política implantada atendia aos interesses da nação. Na época, pessoas contrárias à ditadura se afastaram desses símbolos.
Para o cientista social Aurélio Nascimento, manifestar amor pelo país e por seus símbolos deixou de ser uma referência de identidade no Brasil. “No entanto, isso não significa que o brasileiro não tenha apreço por sua nação. Hoje, as pessoas lutam por cidadania mesmo sem idolatrar a pátria”.

Torcida pelo desenvolvimento
O futebol, assim como um torneio como a Copa do Mundo, tem o poder de unir pessoas diferentes em uma mesma torcida. “A realização da Copa no Brasil está mobilizando o brasileiro, que torce pela seleção, faz festas nas ruas, acolhe estrangeiros e expõe a sua identidade: a de um povo alegre, receptivo e de cultura diversificada”, aponta Nanci Gomes. “Porém, a Copa por si só não consegue manter na sociedade um sentimento de igualdade. Para garantir a todos boas condições de vida é preciso que a sociedade aprenda a expressar interesses comuns”.

Exercendo a cidadania
No Brasil, é normal ouvir pessoas dizerem que “todos os brasileiros são corruptos”, “o povo brasileiro não tem educação” ou “viver em outro país seria melhor”. Segundo o cientista político e professor da PUC/SP Pedro Fassoni Arruda, atualmente muitos brasileiros não se preocupam com outros que estejam em regiões ou em classes sociais diferentes das suas.
“E isso se reflete nas eleições. Analisando o mapa de intenção de votos para a presidência, por exemplo, é possível perceber que pessoas que moram nas regiões Sul e Sudeste votarão em candidatos com um perfil completamente diferente daquele que será escolhido por pessoas que moram nas regiões Norte e Nordeste”. Para Pedro, assim como há patriotas, há também no Brasil grupos que não se preocupam com o desenvolvimento da sociedade como um todo.

E se o Brasil perder a Copa?
No atual período, o sentimento de patriotismo de muitas pessoas está fortemente atrelado ao desempenho da seleção brasileira na Copa do Mundo. Mas, mesmo que a seleção não ganhe o Mundial, o sentimento de apreço pela pátria deve permanecer, pois, segundo a psicóloga social Nanci Gomes, o exercício da cidadania depende dele.

Após a Copa, assuntos como a corrupção e a qualidade dos serviços públicos voltarão a ser discutidos assiduamente. “Ao nos identificarmos como uma nação, como o povo brasileiro, passaremos a lutar pelo respeito e pela expressão de todos”, acredita Nanci.

Nenhum comentário:

Postar um comentário