terça-feira, 9 de dezembro de 2014

É preciso discernimento frente às propagandas políticas

Publicada na edição de 22 a 28 de agosto de 2014 do Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC Comunicações Ltda.

Ignorados por muitos, tais minutos são valiosos para reconhecer os candidatos e iniciar o processo de decisão

É chegada a época das propagandas eleitorais gratuitas na televisão e no rádio. Desde terça-feira, 19, os brasileiros estão reconhecendo os candidatos e reunindo informações para decidir o farão diante das urnas, no próximo 5 de outubro. Os poucos minutos na televisão aberta – que são considerados um tédio por muitos eleitores – são valiosos para estabelecer um primeiro contato com os candidatos. Mas, apenas assisti-los, não é o suficiente.
“As propagandas são feitas pelas equipes de marketing dos candidatos. Como o próprio nome já diz, são meras propaganda, cuja intenção é vender uma imagem e esperar que os eleitores a comprem. Essas aparições na TV custam caro, são feitas por profissionais pagos a peso de ouro, portanto a primeira postura que o eleitor pode assumir é tentar não se deixar iludir com aquilo que vê”, aponta o cientista político e social Lúcio Flávio de Almeida.

Difícil de acreditar
Para não cair no conto do vigário, o eleitor deve ter senso crítico ao ouvir o que diz cada candidato. É importante ponderar se aqueles que estão atualmente no poder realmente fizeram, durante o mandato, tudo aquilo que dizem ter feito.
Já em relação àqueles que pretendem chegar ao poder, o eleitor deve tentar reconhecer se as mudanças sugeridas podem mesmo acontecer. “É interessante pensar: ‘Será que ele vai conseguir fazer tudo isso ou está apenas tentando levar o meu voto?’”, indica a cientista política Maria do Socorro Braga.

A TV é o primeiro passo
“Os programas eleitorais na televisão ainda são a maior fonte de informação dos cidadãos, mas servem mais para saber quais são os candidatos do que para avaliar a qualidade deles”, aponta o cientista político Hilton Cesario Fernandes.
Portanto, ao assistir as propagandas o eleitor pode anotar os nomes daqueles que lhe despertaram interesse e procurar saber as suas propostas e o seu histórico na vida política. Ciente de que o discurso aceita qualquer palavra, é importante que o eleitor procure informações concretas sobre o comportamento de seu candidato.
“Quem não se preocupa em fazer uma pesquisa sobre aquele em quem irá votar me parece alguém que não reconhece a importância da política. Acredito que, hoje em dia, a tendência é que muitas pessoas queiram acompanhar seus candidatos, utilizando a internet e as redes sociais” diz Maria do Socorro.

Debates e histórico na justiça
Mais esclarecedores que os discursos nas propagandas eleitorais costumam ser os bate-papos com os candidatos, em entrevistas para jornais e revistas – que o eleitor pode acompanhar pela internet, televisão ou rádio. Nestes momentos, o candidato tende a falar com mais liberdade, sem cortes ou discursos prontos. “É quando ele se coloca de verdade à frente da população”, aponta Hilton.
Outro método para conhecer o candidato é buscar saber se ele já foi condenado por algum processo na Justiça. “Há casos em que os processos são ações políticas dos adversários, mas se o candidato já foi condenado há chances de ele repetir os mesmos erros”, acredita o cientista político.

Principais preocupações
Mais do que um rosto bonito e palavras bem colocadas na propaganda eleitoral, o eleitor deve se atentar à ficha do candidato e com quem financia a sua campanha.
Para Lúcio Flávio de Almeida, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) deveria obrigar os partidos a colocar nas propagandas de televisão quais recursos foram utilizados na campanha. “A tendência é que, quando estiver no poder, o candidato defenda os interesses das pessoas que contribuíram para a sua candidatura, e não os dos eleitores”. Quando o candidato é novo ou pouco conhecido, essa preocupação deve ser redobrada.
“Após a identificação com o candidato, o eleitor deve buscar informações sobre o seu partido. Só assim saberá se os três – eleitor, candidato e partido – têm interesses comuns”, aconselha Hilton Cesario.

Sem oba-oba
Alguns candidatos fazem das propagandas eleitorais um desfile de nomes, números e frases feitas – repetidas à exaustão – sem nenhuma proposta interessante. Alguns utilizam jargões populares, rimas e trocadilhos, o que acaba fazendo com que muitos eleitores não levem a sério as propagandas.
“O ideal é evitar ao máximo esse tipo de comportamento e não votar nestes candidatos, para não incentivar que outros façam o mesmo. Neste momento, o mais importante é saber sobre os planos de governo”, acredita Hilton Cesario.

Votar e cobrar

“Só votar não resolve. É preciso lutar para que os interesses coletivos sejam realizados. Em junho do ano passado, por exemplo, as pessoas foram às ruas e manifestaram insatisfação com a qualidade do transporte público oferecido. Dali por diante, diversos políticos tornaram a discussão sobre a mobilidade urbana uma de suas prioridades. Por isso, cobrar é fundamental. Não basta votar, voltar para casa e esperar por quatro anos para votar novamente. Quanto mais participação política houver, melhores serão os resultados para a sociedade”, aponta Lúcio Flávio de Almeida. 

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