Publicada na edição de 22 a 28 de
agosto de 2014 do Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC Comunicações Ltda.
Ignorados por muitos, tais minutos são
valiosos para reconhecer os candidatos e iniciar o processo de decisão
É chegada a época das propagandas
eleitorais gratuitas na televisão e no rádio. Desde terça-feira, 19, os
brasileiros estão reconhecendo os candidatos e reunindo informações para
decidir o farão diante das urnas, no próximo 5 de outubro. Os poucos minutos na
televisão aberta – que são considerados um tédio por muitos eleitores – são
valiosos para estabelecer um primeiro contato com os candidatos. Mas, apenas
assisti-los, não é o suficiente.
“As propagandas são feitas pelas
equipes de marketing dos candidatos. Como o próprio nome já diz, são meras propaganda,
cuja intenção é vender uma imagem e esperar que os eleitores a comprem. Essas
aparições na TV custam caro, são feitas por profissionais pagos a peso de ouro,
portanto a primeira postura que o eleitor pode assumir é tentar não se deixar iludir
com aquilo que vê”, aponta o cientista político e social Lúcio Flávio de
Almeida.
Difícil
de acreditar
Para não cair no conto do vigário, o
eleitor deve ter senso crítico ao ouvir o que diz cada candidato. É importante ponderar
se aqueles que estão atualmente no poder realmente fizeram, durante o mandato, tudo
aquilo que dizem ter feito.
Já em relação àqueles que pretendem
chegar ao poder, o eleitor deve tentar reconhecer se as mudanças sugeridas
podem mesmo acontecer. “É interessante pensar: ‘Será que ele vai conseguir
fazer tudo isso ou está apenas tentando levar o meu voto?’”, indica a cientista
política Maria do Socorro Braga.
A
TV é o primeiro passo
“Os programas eleitorais na televisão
ainda são a maior fonte de informação dos cidadãos, mas servem mais para saber
quais são os candidatos do que para avaliar a qualidade deles”, aponta o
cientista político Hilton Cesario Fernandes.
Portanto, ao assistir as propagandas o
eleitor pode anotar os nomes daqueles que lhe despertaram interesse e procurar
saber as suas propostas e o seu histórico na vida política. Ciente de que o
discurso aceita qualquer palavra, é importante que o eleitor procure
informações concretas sobre o comportamento de seu candidato.
“Quem não se preocupa em fazer uma
pesquisa sobre aquele em quem irá votar me parece alguém que não reconhece a
importância da política. Acredito que, hoje em dia, a tendência é que muitas pessoas
queiram acompanhar seus candidatos, utilizando a internet e as redes sociais”
diz Maria do Socorro.
Debates e histórico na justiça
Mais
esclarecedores que os discursos nas propagandas eleitorais costumam ser os
bate-papos com os candidatos, em entrevistas para jornais e revistas – que o
eleitor pode acompanhar pela internet, televisão ou rádio. Nestes momentos, o
candidato tende a falar com mais liberdade, sem cortes ou discursos prontos. “É
quando ele se coloca de verdade à frente da população”, aponta Hilton.
Outro
método para conhecer o candidato é buscar saber se ele já foi condenado por
algum processo na Justiça. “Há casos em que os processos são ações políticas dos
adversários, mas se o candidato já foi condenado há chances de ele repetir os
mesmos erros”, acredita o cientista político.
Principais
preocupações
Mais do que um rosto bonito e palavras
bem colocadas na propaganda eleitoral, o eleitor deve se atentar à ficha do
candidato e com quem financia a sua campanha.
Para Lúcio Flávio de Almeida, o TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) deveria obrigar os partidos a colocar nas propagandas de
televisão quais recursos foram utilizados na campanha. “A tendência é que,
quando estiver no poder, o candidato defenda os interesses das pessoas que
contribuíram para a sua candidatura, e não os dos eleitores”. Quando o
candidato é novo ou pouco conhecido, essa preocupação deve ser redobrada.
“Após a identificação com o candidato,
o eleitor deve buscar informações sobre o seu partido. Só assim saberá se os
três – eleitor, candidato e partido – têm interesses comuns”, aconselha Hilton
Cesario.
Sem
oba-oba
Alguns candidatos fazem das propagandas
eleitorais um desfile de nomes, números e frases feitas – repetidas à exaustão
– sem nenhuma proposta interessante. Alguns utilizam jargões populares, rimas e
trocadilhos, o que acaba fazendo com que muitos eleitores não levem a sério as
propagandas.
“O ideal é evitar ao máximo esse tipo
de comportamento e não votar nestes candidatos, para não incentivar que outros
façam o mesmo. Neste momento, o mais importante é saber sobre os planos de
governo”, acredita Hilton Cesario.
Votar
e cobrar
“Só votar não resolve. É preciso lutar para
que os interesses coletivos sejam realizados. Em junho do ano passado, por
exemplo, as pessoas foram às ruas e manifestaram insatisfação com a qualidade
do transporte público oferecido. Dali por diante, diversos políticos tornaram a
discussão sobre a mobilidade urbana uma de suas prioridades. Por isso, cobrar é
fundamental. Não basta votar, voltar para casa e esperar por quatro anos para
votar novamente. Quanto mais participação política houver, melhores serão os
resultados para a sociedade”, aponta Lúcio Flávio de Almeida.
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