segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Resolver o abastecimento de água é prioridade

Publicada na edição de 14 a 20 de março de 2014 do Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC Comunicações Ltda.

Governo se recusa a anunciar o racionamento, por essa ser uma ação impopular neste ano de eleições

O nível de água do sistema Cantareira, que abastece parte da cidade de São Paulo e arredores, atingiu a mínima histórica nesta semana, ao operar com capacidade abaixo de 16% – por conta, principalmente, dos baixos níveis de chuva no ano passado e neste verão.
Especialistas apontam que, além desse agravante, a Cantareira enfrenta constantemente problemas como roubos e vazamentos de água limpa, que devem ser controlados. A falta de iniciativa do governo quanto ao racionamento também é uma preocupação, afinal a atitude é tida por especialistas como mais que necessária.
“A autoridade estadual têm insistido em dizer que o racionamento está descartado. Medidas como essa sempre acabam prejudicando a população. É evidente que o governo, em ano de eleições, não quer arcar com o prejuízo político de agir de maneira tão impopular”, afirma o ambientalista e coordenador da Rede de Olho nos Mananciais, Mauro Scarpinatti.

Não é de hoje
No ano de 2013 não choveu 70% do esperado. O mês de dezembro foi especialmente ruim: houve 62 milímetros de chuva, quando a média histórica é de 226, segundo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). O quadro se repetiu em janeiro e fevereiro. Mesmo com posse dessas informações, a Sabesp anunciou apenas uma campanha de incentivo a redução do consumo de água.
Considerando o agravamento contínuo do problema, foi minimizada a quantidade de água que deixa as represas da Cantareira – passando de 33 mil para 27,9 mil litros por segundo. Atualmente, para suprir os bairros que ficam no limite, são utilizadas águas de outros reservatórios paulistas, como o Guarapiranga e o Alto Tietê. Não se fala apenas da principal ação que deveria ser tomada: o racionamento de água.
“A situação é grave e o racionamento precisa ser colocado em prática. Não se obtém água de um dia para o outro. É um processo que deve ser planejado e levado a sério por todos”, acredita a presidente do Instituto de Pesquisas Ecológicas, Suzana Pádua.

Dano irreversível
Nos últimos dias, a Sabesp foi autorizada pelo governo a utilizar o “volume morto” do reservatório, a água que fica abaixo da linha de captação nas barragens. “A maior preocupação é: mesmo que tenhamos chuvas no ano que vem, o sistema não consiga se recuperar”, alerta Mauro Scarpinatti. O investimento previsto para a ação é de R$ 80 milhões.
“Se esse dinheiro fosse utilizado pela Sabesp para reduzir os desperdícios com roubos e vazamentos que ela promete reduzir há anos, seria melhor aplicado. Hoje, aproximadamente um terço da água armazenada é desperdiçada, o que denota uma enorme incapacidade de administrar o problema”, aponta o ambientalista.

Situação preocupante
A falta de cuidados pode custar caro ao estado de São Paulo por anos. A perspectiva para os próximos meses não é positiva, pois a água que deveria ter sido estocada de outubro a março é a que seria utilizada para abastecer a população no período de estiagem, que vai de abril a setembro.

“Ao lidar com a natureza, nenhuma decisão é 100% segura. É a primeira vez que vivenciamos uma estiagem em pleno verão”, lembra Francisco Lahóz, secretário executivo do Consórcio PCJ (Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí).

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