Publicada na edição de
14 a 20 de março de 2014 do Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC
Comunicações Ltda.
Governo se recusa a
anunciar o racionamento, por essa ser uma ação impopular neste ano de eleições
O nível de água do
sistema Cantareira, que abastece parte da cidade de São Paulo e arredores,
atingiu a mínima histórica nesta semana, ao operar com capacidade abaixo de 16%
– por conta, principalmente, dos baixos níveis de chuva no ano passado e neste
verão.
Especialistas apontam
que, além desse agravante, a Cantareira enfrenta constantemente problemas como roubos
e vazamentos de água limpa, que devem ser controlados. A falta de iniciativa do
governo quanto ao racionamento também é uma preocupação, afinal a atitude é tida
por especialistas como mais que necessária.
“A autoridade estadual
têm insistido em dizer que o racionamento está descartado. Medidas como essa sempre
acabam prejudicando a população. É evidente que o governo, em ano de eleições,
não quer arcar com o prejuízo político de agir de maneira tão impopular”, afirma
o ambientalista e coordenador da Rede de Olho nos Mananciais, Mauro Scarpinatti.
Não
é de hoje
No ano de 2013 não
choveu 70% do esperado. O mês de dezembro foi especialmente ruim: houve 62
milímetros de chuva, quando a média histórica é de 226, segundo a Sabesp (Companhia
de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). O quadro se repetiu em janeiro e
fevereiro. Mesmo com posse dessas informações, a Sabesp anunciou apenas uma
campanha de incentivo a redução do consumo de água.
Considerando o
agravamento contínuo do problema, foi minimizada a quantidade de água que deixa
as represas da Cantareira – passando de 33 mil para 27,9 mil litros por
segundo. Atualmente, para suprir os bairros que ficam no limite, são utilizadas
águas de outros reservatórios paulistas, como o Guarapiranga e o Alto Tietê.
Não se fala apenas da principal ação que deveria ser tomada: o racionamento de
água.
“A situação é grave e
o racionamento precisa ser colocado em prática. Não se obtém água de um dia
para o outro. É um processo que deve ser planejado e levado a sério por todos”,
acredita a presidente do Instituto de Pesquisas Ecológicas, Suzana Pádua.
Dano
irreversível
Nos últimos dias, a
Sabesp foi autorizada pelo governo a utilizar o “volume morto” do reservatório,
a água que fica abaixo da linha de captação nas barragens. “A maior preocupação
é: mesmo que tenhamos chuvas no ano que vem, o sistema não consiga se recuperar”,
alerta Mauro Scarpinatti. O investimento previsto para a ação é de R$ 80
milhões.
“Se esse dinheiro
fosse utilizado pela Sabesp para reduzir os desperdícios com roubos e vazamentos
que ela promete reduzir há anos, seria melhor aplicado. Hoje, aproximadamente
um terço da água armazenada é desperdiçada, o que denota uma enorme
incapacidade de administrar o problema”, aponta o ambientalista.
Situação
preocupante
A falta de cuidados
pode custar caro ao estado de São Paulo por anos. A perspectiva para os
próximos meses não é positiva, pois a água que deveria ter sido estocada de
outubro a março é a que seria utilizada para abastecer a população no período
de estiagem, que vai de abril a setembro.
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