Publicada na edição de 02 a 08 de maio
de 2014 do Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC Comunicações Ltda.
A sobrevivência do Cantareira depende
da atual administração da crise e da colaboração da população
O nível de água nos reservatórios do Sistema
Cantareira atingiu um novo recorde negativo: 11% da capacidade total. Desde
2011 esse nível vem diminuindo; era a Cantareira dando sinais de que o consumo
estava alto. Desperdícios constantes, ausência de ações de conscientização
pública e falta de investimentos no sistema fizeram com que a crise se
alastrasse até então.
Entenda o que tem sido feito e o que é
necessário se fazer para que o Sistema Cantareira volte a abastecer as regiões paulistas
que antes abastecia.
Descontos
e multas
Na intenção de diminuir o consumo de
água das mais de 8 milhões de pessoas que são atendidas pelo sistema,
residentes em parte da capital, em municípios da Grande São Paulo e em municípios
da região de Campinas, o governo estadual implantou um sistema de desconto na
conta de água e promete adotar no próximo mês um sistema de multas para quem
aumentar o consumo.
Segundo dados do próprio governo
estadual, 76% da população atendida pelo Cantareira reduziu o consumo de água
após o lançamento da campanha de descontos. Parte desses consumidores, 37%, obteve
o desconto em sua conta.
No último dia 21, o governador Geraldo Alckmin
(PSDB) afirmou que a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São
Paulo) começará a cobrar, a partir de maio, multa de 30% do valor da conta de
quem aumentar o consumo.
Possível
implantação do rodízio
O governador Geraldo Alckmin defende a
redução da pressão da água durante a madrugada, mas se mostra contrário ao
rodízio, situação em que para cada 1 dia de abastecimento de água a população
passaria por 2 dias sem. “É evidente que o governo não quer tomar uma medida
tão impopular em ano eleitoral”, acredita o ambientalista Mauro Scarpinatti. Em
seus discursos, o governador defende que suas ações “nada têm a ver com reeleição”.
Havendo a implantação do rodízio, é
possível prever que a população sentirá o impacto da falta de abastecimento de
maneiras diferentes. Aqueles que moram em condomínios e utilizam caixas de água
grandes poderão utilizar, nos dias de abstenção, a água quem têm estocada. Já aqueles
que moram em residências com uma caixa de água média ou pequena provavelmente
sentirão a falta diretamente na torneira.
Questões
políticas
O Ministério Publico investiga se houve
má administração por parte do Estado e da Sabesp, atitude que corroboraria com
a atual crise hidráulica. O governador Geraldo Alckmin, por sua vez, esclarece em
seus discursos que suas atitudes são tomadas com base nos apontamentos dos
técnicos do Estado.
Para Mauro Scarpinatti, é necessário
administrar melhor a demanda de água, “coisa que o governo nunca fez, pois sempre
procurou se voltar para a oferta. Isso porque a Sabesp é uma empresa de
economia mista que vende água, ou seja, do ponto de vista meramente empresarial,
para a Sabesp quanto mais consumo houver melhor”.
O
futuro de São Paulo
Enquanto a crise do Cantareira não é
contida, parte da região que antes era abastecida por ele hoje é abastecida por
outros sistemas do Estado – ação que pode colapsar tais sistemas a longo prazo.
Para o biólogo coordenador do IPE (Instituto
de Pesquisas Ecológicas) Alexandre Uezu, o Sistema Cantareira voltará a
abastecer as regiões paulistas que antes abastecia desde que “tanto a Sabesp
quanto a população evitem desperdícios”. Para ele, é crucial que o consumo de
água em São Paulo seja e se mantenha reduzido.
Já para o ambientalista Mauro Scarpinatti,
o reestabelecimento do Cantareira depende do quão cauteloso será o processo – já
iniciado pela Sabesp – de retirada de água do chamado “nível morto”, que está
abaixo da linha de captação das barragens. “Acredito que essa reserva não
deveria ser utilizada mas, já que será, é importante agir com cuidado, pois quando
se vai até o fundo de um lago seu ecossistema sofre alterações imprevisíveis”.
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