segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O abastecimento de água preocupa cada vez mais

Publicada na edição de 02 a 08 de maio de 2014 do Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC Comunicações Ltda.

A sobrevivência do Cantareira depende da atual administração da crise e da colaboração da população

O nível de água nos reservatórios do Sistema Cantareira atingiu um novo recorde negativo: 11% da capacidade total. Desde 2011 esse nível vem diminuindo; era a Cantareira dando sinais de que o consumo estava alto. Desperdícios constantes, ausência de ações de conscientização pública e falta de investimentos no sistema fizeram com que a crise se alastrasse até então.
Entenda o que tem sido feito e o que é necessário se fazer para que o Sistema Cantareira volte a abastecer as regiões paulistas que antes abastecia.

Descontos e multas
Na intenção de diminuir o consumo de água das mais de 8 milhões de pessoas que são atendidas pelo sistema, residentes em parte da capital, em municípios da Grande São Paulo e em municípios da região de Campinas, o governo estadual implantou um sistema de desconto na conta de água e promete adotar no próximo mês um sistema de multas para quem aumentar o consumo.
Segundo dados do próprio governo estadual, 76% da população atendida pelo Cantareira reduziu o consumo de água após o lançamento da campanha de descontos. Parte desses consumidores, 37%, obteve o desconto em sua conta.
No último dia 21, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) começará a cobrar, a partir de maio, multa de 30% do valor da conta de quem aumentar o consumo.

Possível implantação do rodízio
O governador Geraldo Alckmin defende a redução da pressão da água durante a madrugada, mas se mostra contrário ao rodízio, situação em que para cada 1 dia de abastecimento de água a população passaria por 2 dias sem. “É evidente que o governo não quer tomar uma medida tão impopular em ano eleitoral”, acredita o ambientalista Mauro Scarpinatti. Em seus discursos, o governador defende que suas ações “nada têm a ver com reeleição”.
Havendo a implantação do rodízio, é possível prever que a população sentirá o impacto da falta de abastecimento de maneiras diferentes. Aqueles que moram em condomínios e utilizam caixas de água grandes poderão utilizar, nos dias de abstenção, a água quem têm estocada. Já aqueles que moram em residências com uma caixa de água média ou pequena provavelmente sentirão a falta diretamente na torneira.

Questões políticas
O Ministério Publico investiga se houve má administração por parte do Estado e da Sabesp, atitude que corroboraria com a atual crise hidráulica. O governador Geraldo Alckmin, por sua vez, esclarece em seus discursos que suas atitudes são tomadas com base nos apontamentos dos técnicos do Estado.
Para Mauro Scarpinatti, é necessário administrar melhor a demanda de água, “coisa que o governo nunca fez, pois sempre procurou se voltar para a oferta. Isso porque a Sabesp é uma empresa de economia mista que vende água, ou seja, do ponto de vista meramente empresarial, para a Sabesp quanto mais consumo houver melhor”.

O futuro de São Paulo
Enquanto a crise do Cantareira não é contida, parte da região que antes era abastecida por ele hoje é abastecida por outros sistemas do Estado – ação que pode colapsar tais sistemas a longo prazo.
Para o biólogo coordenador do IPE (Instituto de Pesquisas Ecológicas) Alexandre Uezu, o Sistema Cantareira voltará a abastecer as regiões paulistas que antes abastecia desde que “tanto a Sabesp quanto a população evitem desperdícios”. Para ele, é crucial que o consumo de água em São Paulo seja e se mantenha reduzido.
Já para o ambientalista Mauro Scarpinatti, o reestabelecimento do Cantareira depende do quão cauteloso será o processo – já iniciado pela Sabesp – de retirada de água do chamado “nível morto”, que está abaixo da linha de captação das barragens. “Acredito que essa reserva não deveria ser utilizada mas, já que será, é importante agir com cuidado, pois quando se vai até o fundo de um lago seu ecossistema sofre alterações imprevisíveis”.

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