segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Violência não pode gerar mais violência

Publicada na edição de 21 a 27 de fevereiro de 2014 do Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC Comunicações Ltda.

Cada vez mais, pessoas estão favoráveis à máxima “olho por olho, dente por dente”. Mas o correto seria cobrar ações do Poder Público

O povo brasileiro sofre violências diárias. Seja utilizando o transporte público precário, seja padecendo sobre leitos de hospitais sem estrutura, seja sobrevivendo sem um recurso básico como o saneamento. A péssima qualidade do ensino, o alto nível de corrupção e a crueldade que se alastram são preocupantes. E, como toda ação tem uma reação, os brasileiros não aguentam mais. Com razão.
Só que, entre as mais diversas maneiras de expressar a sua insatisfação, alguns grupos resolveram “partir para a ação”. Em outras palavras, decidiram fazer justiça com as próprias mãos. A sucessão de seres humanos amarrados a postes é um exemplo. Ao invés de cobrar o Poder Público – o responsável por garantir a segurança no país – há quem prefira abrir mão dos seus princípios, praticar e apoiar a intolerância com o próximo.

Desejo de justiça
Aqueles que acreditam que a alternativa eficiente para resolver o problema da violência no Brasil é amarrar pessoas a postes precisam refletir que faltarão postes e sobrarão ladrões de todos os tipos – com armas em punho ou com ternos, gravatas e colarinhos brancos. Acreditar que o problema da violência no Brasil se resolva assim é uma visão, no mínimo, simplista.
Na última terça-feira, 18, um homem agrediu sua esposa e saltou da janela de seu apartamento no 13º andar com o filho do casal, que tinha seis anos de idade. Apenas neste caso é possível perceber que o machismo, a falta de respeito e a falta de paciência estão instalados em muitos lares. Logo, a violência que determinadas pessoas acreditam ser possível exterminar com as próprias mãos, aquela relacionada a furtos e assaltos, é apenas a ponta do iceberg. Estamos imersos a algo muito maior. Quem dera se a solução dos problemas sociais brasileiros fosse tão fácil de ser resolvida.

Não justifica e não resolve
“Utilizar a violência como uma justificativa para que haja a paz é um tremendo retrocesso no processo civilizatório. A atitude que se espera de um cidadão que deseje combater a violência é que, no mínimo, ele também cumpra a lei. A decisão de alguns cidadãos, de que a justiça tem que ser feita por suas próprias mãos, despreza anos de acúmulo civilizatório. Para ter uma sociedade menos violenta é preciso que prevaleça a solidariedade e o respeito estrito a lei”, afirma o cientista social Aurélio Nascimento.
Segundo ele, para inibir a violência, o poder público deve “aparelhar o sistema de segurança, com salários dignos, estrutura técnica, serviço de inteligência e uma filosofia de segurança que garanta os direitos de todos os seres humanos”.

A responsabilidade é do Estado
Alguém precisa tomar atitudes em relação à guerra civil que se instalou no Brasil, e esse alguém é o Poder Público. O brasileiro precisa que os seus direitos a segurança e a proteção sejam garantidos.
Segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com um número de quase 50 mil homicídios por ano, o Brasil é um dos países mais violentos do mundo. Nos últimos 30 anos, houve aqui um aumento de 83% no número de homicídios.
O Ipea aponta que o investimento no efetivo policial e no sistema carcerário influencia diretamente a queda do número de homicídios. Em 2013, o governo federal passou a investir 34,2% a menos nesse quesito do que no ano anterior. No Estado do Sergipe, por exemplo, de 2003 a 2009 aumentou em 26% o número de homicídios e caiu em 9% o número de encarceramentos.
Em nota, a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça informou que disponibiliza materiais e cursos voltados à proteção dos Direitos Humanos, preparando Polícias Civis, Polícias Militares, Guardas Municipais, entre outros profissionais de segurança pública de todo o país para evitar que situações como essas, em que seres humanos são amarrados e espancados, não aconteçam.

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