Publicada na edição de
24 a 30 de janeiro de 2014 do Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC
Comunicações Ltda.
Ostentar, curtir e
namorar. Poucos são os jovens que reconhecem o valor do dinheiro suado e do trabalho
duro
Nas últimas semanas o
Brasil conheceu o rolezinho, um encontro marcado entre jovens com o objetivo de
passear, ouvir funk e conhecer pessoas novas em shoppings. Essas ações causaram
rebuliço e provocaram reflexões. Afinal, o que pensam esses jovens?
“Quem, como
adolescente, não gostaria de apenas "curtir", namorar e consumir? No
passado, as circunstâncias da vida tornavam isso mais difícil. Hoje, tudo
parece ser fácil e o que se percebe é que os jovens querem ser jovens por mais
tempo, até quando não dê mais”, reflete Laerte Leite Cordeiro, consultor em
recursos humanos.
Não há mal nenhum em querer
aproveitar a juventude. O problema é que cada vez mais vemos adolescentes
gastarem as suas energias em coisas inúteis. A sua falta de objetivos na vida se
reflete em tudo o que fazem, inclusive no seu comportamento no mercado de
trabalho. Quem nunca viu um jovem ser preguiçoso ou pouco comprometido em uma
empresa?
“O adolescente ainda
não tem conhecimento e experiência suficientes para escolher e compreender as
consequências de suas ações em longo prazo. Mas, vive a sensação de que sabe
muito”, aponta Silvio Celestino, especialista no desenvolvimento de líderes
empresariais.
Eles
só querem ostentar
Atualmente, muitos
jovens se preocupam apenas com as aparências. Querem parecer mais felizes, mais
ricos e mais “descolados” que os outros. Parecer é fácil – não exige tanto
esforço quanto realmente ser. “Logo, alguns jovens acreditam, de maneira
ingênua, que ter os mesmos objetos que pessoas ricas têm ou frequentar os
ambientes que eles frequentam é um comprovante de status”, afirma Silvio
Celestino.
Falta, nessa história,
a força de vontade para estudar e trabalhar muito para ser alguém na vida.
O
trabalho enobrece
Trabalhar era tido como
algo enobrecedor para a maioria das famílias há alguns anos. Apenas por meio do
trabalho era possível que um jovem se desenvolvesse, se tornasse um adulto
responsável e capaz de produzir mudanças positivas no mundo. Hoje, mesmo
trabalhando ou estudando, muitos permanecem no ócio.
“Até a alguns anos
atrás era comum nas famílias menos abastadas que os jovens começassem a
trabalhar muito cedo, e em funções bem modestas. As pessoas tinham hábitos
simples e objetivos gloriosos. Atualmente, o jovem busca apenas aproveitar a
vida, e só ‘cai na real’ mais tarde”, acredita Laerte.
Falta
amadurecimento
“Aqueles que
amadurecerem e perceberem a complexidade do mundo e do mercado, e como ela impactam
na sua vida e carreira, irão optar por aprender mais. Perceberão rapidamente
que buscar cargos maiores nas empresas, ou até mesmo empreender, são ações
importantes para a sua vida. Os demais, que ficarão tentando levar os anos de forma gostosa
e simples, tendem a ter um padrão de vida somente de sobrevivência. O que é uma
pena, pois a vida pode ser mais marcante, relevante e inspiradora do que hoje sonham
os jovens. Eles precisam se preparar e trabalhar duro para isso”, acredita Silvio
Celestino.
Os
profissionais do futuro
Fica a preocupação no
ar: como serão os médicos do futuro? E os políticos? Não poder confiar que os
jovens de hoje tomarão boas decisões pelo Brasil nos próximos anos é algo, no
mínimo, preocupante. “Não penso que essas pessoas se tornarão médicos e políticos
relevantes no futuro”, confessa Silvio Celestino.
No ano passado, muitos
brasileiros foram a ruas protestando contra as obras da Copa e clamando por
melhores condições de saúde e educação, entre outras coisas. Parece que todos
se uniram para reclamar ao governo o descaso, mas no dia a dia poucos se
empenham para tornar esse país, de alguma maneira, um lugar melhor.
É
preciso ter ambições
“Todos nós temos
sonhos. Mas, muitas vezes, a nossa condição é tão desfavorável que duvidamos
que iremos conquistá-los. Por isso, a ambição desempenha um papel fundamental: faz
com que o indivíduo tenha energia para construir a vida que deseja. Uma parte
importante nesse processo é querer passar por cargos cada vez mais importantes
na sua carreira profissional”, acredita Silvio Celestino.
Ter ambição na vida
está diretamente ligado a realizar sonhos e isso vale a pena, pois sonhar e
realizar são atitudes importantes para qualquer pessoa. “A ambição e a
constante busca por desafios são formas de se progredir pessoal e
profissionalmente”, aponta Laerte.
Abaixo
a ignorância
A falta de ambição na
vida leva o cidadão ao desinteresse por novos aprendizados e, consequentemente,
à ignorância. E o Brasil precisa de muita coisa, menos de mais ignorância.
Jovens presos a essa condição tendem a ser tornar massa de manobra: sofrem grande
possibilidade de serem manipulados pela propaganda, pela mídia, pelo governo
corrupto.
O filósofo político
Russell Kirk classifica o grupo de pessoas que está nessa condição como proletariado.
Segundo ele, trata-se de uma massa de pessoas que “perdeu – se é que já possuiu
– os hábitos de trabalho, o senso de responsabilidade pessoal, a curiosidade
intelectual, as convicções morais, a participação ativa nos assuntos públicos e
a esperança de melhoria. A maioria vive, dia após dia, sem refletir sobre o que
tem e faz, pois não tem nenhum objetivo de vida”.
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