segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O que eles querem da vida?

Publicada na edição de 24 a 30 de janeiro de 2014 do Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC Comunicações Ltda.

Ostentar, curtir e namorar. Poucos são os jovens que reconhecem o valor do dinheiro suado e do trabalho duro

Nas últimas semanas o Brasil conheceu o rolezinho, um encontro marcado entre jovens com o objetivo de passear, ouvir funk e conhecer pessoas novas em shoppings. Essas ações causaram rebuliço e provocaram reflexões. Afinal, o que pensam esses jovens?
“Quem, como adolescente, não gostaria de apenas "curtir", namorar e consumir? No passado, as circunstâncias da vida tornavam isso mais difícil. Hoje, tudo parece ser fácil e o que se percebe é que os jovens querem ser jovens por mais tempo, até quando não dê mais”, reflete Laerte Leite Cordeiro, consultor em recursos humanos.
Não há mal nenhum em querer aproveitar a juventude. O problema é que cada vez mais vemos adolescentes gastarem as suas energias em coisas inúteis. A sua falta de objetivos na vida se reflete em tudo o que fazem, inclusive no seu comportamento no mercado de trabalho. Quem nunca viu um jovem ser preguiçoso ou pouco comprometido em uma empresa?
“O adolescente ainda não tem conhecimento e experiência suficientes para escolher e compreender as consequências de suas ações em longo prazo. Mas, vive a sensação de que sabe muito”, aponta Silvio Celestino, especialista no desenvolvimento de líderes empresariais.

Eles só querem ostentar
Atualmente, muitos jovens se preocupam apenas com as aparências. Querem parecer mais felizes, mais ricos e mais “descolados” que os outros. Parecer é fácil – não exige tanto esforço quanto realmente ser. “Logo, alguns jovens acreditam, de maneira ingênua, que ter os mesmos objetos que pessoas ricas têm ou frequentar os ambientes que eles frequentam é um comprovante de status”, afirma Silvio Celestino.
Falta, nessa história, a força de vontade para estudar e trabalhar muito para ser alguém na vida.

O trabalho enobrece
Trabalhar era tido como algo enobrecedor para a maioria das famílias há alguns anos. Apenas por meio do trabalho era possível que um jovem se desenvolvesse, se tornasse um adulto responsável e capaz de produzir mudanças positivas no mundo. Hoje, mesmo trabalhando ou estudando, muitos permanecem no ócio.
“Até a alguns anos atrás era comum nas famílias menos abastadas que os jovens começassem a trabalhar muito cedo, e em funções bem modestas. As pessoas tinham hábitos simples e objetivos gloriosos. Atualmente, o jovem busca apenas aproveitar a vida, e só ‘cai na real’ mais tarde”, acredita Laerte.

Falta amadurecimento
“Aqueles que amadurecerem e perceberem a complexidade do mundo e do mercado, e como ela impactam na sua vida e carreira, irão optar por aprender mais. Perceberão rapidamente que buscar cargos maiores nas empresas, ou até mesmo empreender, são ações importantes para a sua vida. Os demais, que  ficarão tentando levar os anos de forma gostosa e simples, tendem a ter um padrão de vida somente de sobrevivência. O que é uma pena, pois a vida pode ser mais marcante, relevante e inspiradora do que hoje sonham os jovens. Eles precisam se preparar e trabalhar duro para isso”, acredita Silvio Celestino.

Os profissionais do futuro
Fica a preocupação no ar: como serão os médicos do futuro? E os políticos? Não poder confiar que os jovens de hoje tomarão boas decisões pelo Brasil nos próximos anos é algo, no mínimo, preocupante. “Não penso que essas pessoas se tornarão médicos e políticos relevantes no futuro”, confessa Silvio Celestino.
No ano passado, muitos brasileiros foram a ruas protestando contra as obras da Copa e clamando por melhores condições de saúde e educação, entre outras coisas. Parece que todos se uniram para reclamar ao governo o descaso, mas no dia a dia poucos se empenham para tornar esse país, de alguma maneira, um lugar melhor.

É preciso ter ambições
“Todos nós temos sonhos. Mas, muitas vezes, a nossa condição é tão desfavorável que duvidamos que iremos conquistá-los. Por isso, a ambição desempenha um papel fundamental: faz com que o indivíduo tenha energia para construir a vida que deseja. Uma parte importante nesse processo é querer passar por cargos cada vez mais importantes na sua carreira profissional”, acredita Silvio Celestino.
Ter ambição na vida está diretamente ligado a realizar sonhos e isso vale a pena, pois sonhar e realizar são atitudes importantes para qualquer pessoa. “A ambição e a constante busca por desafios são formas de se progredir pessoal e profissionalmente”, aponta Laerte.

Abaixo a ignorância
A falta de ambição na vida leva o cidadão ao desinteresse por novos aprendizados e, consequentemente, à ignorância. E o Brasil precisa de muita coisa, menos de mais ignorância. Jovens presos a essa condição tendem a ser tornar massa de manobra: sofrem grande possibilidade de serem manipulados pela propaganda, pela mídia, pelo governo corrupto.

O filósofo político Russell Kirk classifica o grupo de pessoas que está nessa condição como proletariado. Segundo ele, trata-se de uma massa de pessoas que “perdeu – se é que já possuiu – os hábitos de trabalho, o senso de responsabilidade pessoal, a curiosidade intelectual, as convicções morais, a participação ativa nos assuntos públicos e a esperança de melhoria. A maioria vive, dia após dia, sem refletir sobre o que tem e faz, pois não tem nenhum objetivo de vida”.

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