Publicada na edição de 29 de novembro a 05 de dezembro de 2013 do Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC Comunicações Ltda.
Tornou-se natural exibir o que se
tem (e o que não se tem) na tentativa de se mostrar melhor que os outros
Ostentar é uma atitude que está
difundida nos hábitos de muitos brasileiros. Jovens, adultos e crianças
assimilam que exibir os seus bens ou as suas características intelectuais e
culturais é algo normal e positivo. Afinal, vivemos na sociedade do espetáculo,
em que a constante busca pela aprovação das outras pessoas leva a todos à
ostentação.
Tenho,
logo existo
O maior poder de compra que o
brasileiro atingiu nos últimos anos possibilitou um nível de consumo mais alto
que o habitual. Computadores, eletrodomésticos, automóveis e até mesmo a casa
própria se tornaram itens que estão completamente ao alcance do trabalhador.
Até aí, problema nenhum. É natural que
grande parte das pessoas, independente da sua classe social, deseje melhorar a
sua qualidade de vida e aproximar o seu padrão ao daqueles que pertencem às
classes mais ricas. O problema surge quando esse desejo passa a ser sanado por
meio da ostentação.
“A sensação, seja real ou
fantasiada, de poder ter algo para ostentar, faz com que quem se exiba sinta
que pode fazer parte de uma classe social superior no sentido financeiro.
Agindo assim, ele deixa de se preocupar com o que é, e passa a se preocupar
apenas com o que tem e pode mostrar”, explica a psicóloga Claudia Sarti. Mas, até que ponto vale a pena
enriquecer-se materialmente e empobrecer-se enquanto ser humano?
Faça
uma autoanálise
Um dos itens que mais representa
a ostentação no Brasil é o celular. Ao comprar um aparelho, a maioria das
pessoas procura um modelo que tenha uma boa câmera, espaço para armazenar
inúmeras fotos e músicas e, se possível, televisão embutida. A pergunta que não
quer calar é: todos esses recursos são utilizados? Ou o dono quer demonstrar,
ao mundo e a si mesmo, que é capaz de ter um celular de última geração?
“Por trás da ostentação, muitas
vezes, é possível encontrar personalidades inseguras por conta de uma autoestima
e autoimagem rebaixadas. Aquilo que deveria ser preenchido por um conteúdo
emocional positivo, construído após experiências afetivas, torna-se vazio e faz
com que a pessoa ostente bens materiais para sanar essa angústia”, afirma
Claudia Sarti. “Como uma solução mágica e inconsciente, a pessoa sente que o
seu valor é o mesmo do que o do seu objeto de ostentação”.
De
olho nas crianças
Infelizmente, é cada vez mais comum
ver crianças ostentando. Elas aprendem com os exemplos que estão a sua volta,
que precisam evidenciar qualidades ou bens para serem reconhecidas e aceitas em
determinados grupos. “Assim como os adultos, os pequenos são seres que dependem
da aprovação e do acolhimento dos demais indivíduos da sociedade em que vivem. Mas,
é importante ressaltar para eles que a procura por essa aceitação não terá
sucesso se for baseada na posse de objetos que os outros não têm”, acredita a
psicóloga.
Portanto, o papel dos pais é incentivar
o desenvolvimento da racionalidade, da imaginação e da sensibilidade, enquanto
características que tendem a levar a uma vida saudável e a um futuro próspero. “É
completamente desfavorável apresentar às crianças uma proposta de vida e
organização social que faz uma promessa à qual a realidade e o tempo não
poderão cumprir”, afirma Claudia Sarti.
Prosperar
é preciso
Ter boas roupas, uma boa casa,
viajar, se alimentar bem e ter cultura são atitudes que fazem um bem enorme a
qualquer ser humano. Mas, infelizmente, para muitos, a importância desses
fatores se baseia na possibilidade de ostentá-los. Há quem acredite que receber
atenção, aplausos e a consideração das pessoas a sua volta é crucial para se
sentir importante.
É preciso ter consciência de que
o valor de nenhum ser humano é, ou pelo menos deve ser, medido pelos bens que
possui. Há um ditado popular que diz “vão-se os anéis e ficam os dedos”.
Eles
ostentam demais
Na última semana rodou o mundo a
notícia de que a atriz Angelina Jolie comprou uma ilha, situada a cerca 70
quilômetros da costa de Nova Iorque, para dar de presente de aniversário ao
marido Brad Pitt, que completa 50 anos. O fato não é tão surpreende, pois o
casal está acostumado a trocar presentes caros, exuberantes e até um pouco
supérfluos. Algo parecido acontece com Beyonce e Jay-Z. Reconhecidos por suas
carreiras no meio musical, marido e mulher norte-americanos exibem em seus
clipes roupas de grife, carros e joias exuberantes, evidenciando um estilo de
vida diferente da maioria das pessoas no mundo inteiro.
Já no Brasil, há o funk
ostentação. Em suas letras, ele evidencia que pessoas de camadas sociais mais
pobres da sociedade buscam ser parecidas com aquelas que estão nas classes mais
ricas, ostentando, entre outras coisas, ter muito dinheiro.
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