sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Ostentação: o mal do século

Publicada na edição de 29 de novembro a 05 de dezembro de 2013 do Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC Comunicações Ltda.

Tornou-se natural exibir o que se tem (e o que não se tem) na tentativa de se mostrar melhor que os outros

Ostentar é uma atitude que está difundida nos hábitos de muitos brasileiros. Jovens, adultos e crianças assimilam que exibir os seus bens ou as suas características intelectuais e culturais é algo normal e positivo. Afinal, vivemos na sociedade do espetáculo, em que a constante busca pela aprovação das outras pessoas leva a todos à ostentação.

Tenho, logo existo
O maior poder de compra que o brasileiro atingiu nos últimos anos possibilitou um nível de consumo mais alto que o habitual. Computadores, eletrodomésticos, automóveis e até mesmo a casa própria se tornaram itens que estão completamente ao alcance do trabalhador. Até aí, problema nenhum.  É natural que grande parte das pessoas, independente da sua classe social, deseje melhorar a sua qualidade de vida e aproximar o seu padrão ao daqueles que pertencem às classes mais ricas. O problema surge quando esse desejo passa a ser sanado por meio da ostentação.
“A sensação, seja real ou fantasiada, de poder ter algo para ostentar, faz com que quem se exiba sinta que pode fazer parte de uma classe social superior no sentido financeiro. Agindo assim, ele deixa de se preocupar com o que é, e passa a se preocupar apenas com o que tem e pode mostrar”, explica a psicóloga Claudia Sarti. Mas, até que ponto vale a pena enriquecer-se materialmente e empobrecer-se enquanto ser humano?

Faça uma autoanálise
Um dos itens que mais representa a ostentação no Brasil é o celular. Ao comprar um aparelho, a maioria das pessoas procura um modelo que tenha uma boa câmera, espaço para armazenar inúmeras fotos e músicas e, se possível, televisão embutida. A pergunta que não quer calar é: todos esses recursos são utilizados? Ou o dono quer demonstrar, ao mundo e a si mesmo, que é capaz de ter um celular de última geração?
“Por trás da ostentação, muitas vezes, é possível encontrar personalidades inseguras por conta de uma autoestima e autoimagem rebaixadas. Aquilo que deveria ser preenchido por um conteúdo emocional positivo, construído após experiências afetivas, torna-se vazio e faz com que a pessoa ostente bens materiais para sanar essa angústia”, afirma Claudia Sarti. “Como uma solução mágica e inconsciente, a pessoa sente que o seu valor é o mesmo do que o do seu objeto de ostentação”.

De olho nas crianças
Infelizmente, é cada vez mais comum ver crianças ostentando. Elas aprendem com os exemplos que estão a sua volta, que precisam evidenciar qualidades ou bens para serem reconhecidas e aceitas em determinados grupos. “Assim como os adultos, os pequenos são seres que dependem da aprovação e do acolhimento dos demais indivíduos da sociedade em que vivem. Mas, é importante ressaltar para eles que a procura por essa aceitação não terá sucesso se for baseada na posse de objetos que os outros não têm”, acredita a psicóloga.
Portanto, o papel dos pais é incentivar o desenvolvimento da racionalidade, da imaginação e da sensibilidade, enquanto características que tendem a levar a uma vida saudável e a um futuro próspero. “É completamente desfavorável apresentar às crianças uma proposta de vida e organização social que faz uma promessa à qual a realidade e o tempo não poderão cumprir”, afirma Claudia Sarti.

Prosperar é preciso
Ter boas roupas, uma boa casa, viajar, se alimentar bem e ter cultura são atitudes que fazem um bem enorme a qualquer ser humano. Mas, infelizmente, para muitos, a importância desses fatores se baseia na possibilidade de ostentá-los. Há quem acredite que receber atenção, aplausos e a consideração das pessoas a sua volta é crucial para se sentir importante.
É preciso ter consciência de que o valor de nenhum ser humano é, ou pelo menos deve ser, medido pelos bens que possui. Há um ditado popular que diz “vão-se os anéis e ficam os dedos”.

Eles ostentam demais 
Na última semana rodou o mundo a notícia de que a atriz Angelina Jolie comprou uma ilha, situada a cerca 70 quilômetros da costa de Nova Iorque, para dar de presente de aniversário ao marido Brad Pitt, que completa 50 anos. O fato não é tão surpreende, pois o casal está acostumado a trocar presentes caros, exuberantes e até um pouco supérfluos. Algo parecido acontece com Beyonce e Jay-Z. Reconhecidos por suas carreiras no meio musical, marido e mulher norte-americanos exibem em seus clipes roupas de grife, carros e joias exuberantes, evidenciando um estilo de vida diferente da maioria das pessoas no mundo inteiro.
Já no Brasil, há o funk ostentação. Em suas letras, ele evidencia que pessoas de camadas sociais mais pobres da sociedade buscam ser parecidas com aquelas que estão nas classes mais ricas, ostentando, entre outras coisas, ter muito dinheiro. 

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