terça-feira, 30 de abril de 2013

PEC das domésticas: Nem tudo está em vigor


Publicada na edição de 5 de março a 11 de abril de 2013 do Jornal do Trem e Folha do Ônibus da FLC Comunicações Ltda.



Conheça os direitos adquiridos e a projeção para o futuro do mercado das empregadas domésticas

A Proposta foi aprovada, mas sete dos dezesseis direitos adquiridos ainda não estão em vigor. Eles precisam ser regulamentados, sobre o modo o qual irão funcionar precisam ser detalhados formalmente. Segundo o advogado Marco Antonio Frabetti, não é possível dizer quanto tempo isso demora.
Reconhecida popularmente como a “PEC das domésticas”, a proposta em questão foi aprovada no último dia 26 e gerou modificações nos direitos dos trabalhadores domésticos: jardineiros, cozinheiros, motoristas particulares, vigias, caseiros, arrumadeiras, lavadeiras, passadeiras, governantas, babás, cuidadores de idosos, entre outros.
Empregados domésticos entrevistados alegam que a iniciativa é positiva e representa um avanço ao Brasil. “Até que enfim seremos valorizados. Eu não achava justo, todo mundo tinha seus direitos menos nós. Antes dessas melhorias, ao ser demitido, você saia com uma mão na frente e outra atrás, mesmo tendo trabalhado por anos e anos”, diz o caseiro Natal Barros. Conheça os aspectos já vigentes.

Jornada de trabalho
A lei estabelece a carga horária de 8 horas diárias e 44 horas semanais. É aconselhável que o empregador forneça uma folha de ponto ou um caderno para as anotações dos horários de entrada, almoço e saída. O controle das horas de trabalho é de interesse de ambos, patrão e funcionário.
A regra causou estranhamento à empregada doméstica Cleusa Oliveira. “Tem dias que tem bastante serviço e outros que não tem quase nada para fazer, por que eu já estou adiantada. Quanto a isso, precisarei conversar com a patroa”.

Horas extras
Qualquer serviço prestado fora da jornada trabalho pode ser considerado hora extra, que custa, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) a mais do que a hora normal. Segundo o advogado, elas devem ser pagas junto com o salário, que não pode ser reduzido em hipótese alguma: a partir de agora, o valor das horas extras deve somar ao salário atual do trabalhador. A Constituição Federal proíbe redução salarial.

Salário
Além da garantia do salário mínimo, está assegurada ao trabalhador doméstico a proteção do salário. "Se o empregador não pagar no dia certo, o empregado poderá requerer na Justiça do Trabalho o rompimento do contrato, dispensar o patrão e receber todos os direitos", esclarece o advogado.

Demais benefícios
Está estabelecido que os empregadores devem reconhecer e respeitar os acordos e convenções coletivas. “Muito provavelmente esta categoria profissional vai se organizar num sindicato irá estabelecer as regras que irão prevalecer entre empregados e empregadores”, diz o advogado.
Os últimos direitos adquiridos são a redução dos riscos no trabalho, a proibição de discriminação (de salário, função, critério de admissão e discriminação a pessoa com deficiência) e a proibição de trabalho noturno e/ou perigoso a menores de 16 anos.

No aguardo
Antes entrar em vigor precisam ser regulamentados o seguro-desemprego, o salário-família, o adicional noturno, os auxílios creche e pré-escola para filhos e dependentes até cinco anos de idade, as normas de segurança, o seguro contra acidente de trabalho, a proteção contra despedida sem justa causa e o direito ao FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). “Pode ser que algumas coisas sejam iguais às das demais categorias, mas pode ser que não. Devemos aguardar”, alega Frabetti.

Confiança
Em relação aos benefícios adquiridos, o caseiro acredita que não será demitido. “Com o tempo, os patrões vão se acostumar, sabemos que é difícil. Mas do mesmo jeito que dependemos deles, eles também dependem do nosso trabalho. Encontrar alguém de confiança, hoje em dia, não é fácil”. A empregada doméstica Cleusa também está tranquila. “Nós podemos fazer cursos e ir pra outros empregos, mas as patroas dificilmente vão fazer os serviços que as domésticas fazem. Elas precisam de nós”.
Clarice Ferreira, administradora que tem uma empregada doméstica mensalista, alega que irá mantê-la. "Vamos nos apertar aqui em casa, infelizmente eu não tenho como ficar sem. Depois das regulamentações vamos sentar e colocar os pingos nos is. Esses benefícios serão bons para ela".

Informalidade
Segundo dados do PNAD, em 2011 apenas três a cada dez trabalhadores domésticos tinham registro na carteira de trabalho. A informalidade no setor é muito grande. Eliana Menezes, Presidente do Sindicato das Domésticas de São Paulo, afirma: “A profissão esta sendo valorizada, acredito que as profissionais vão querer garantir os seus direitos. O sindicato vai fiscalizar para que cada vez mais haja consciência sobre a importância em cumprir a lei”.

Busca por diaristas
“Muitos patrões optarão por diaristas”, acredita Gilvane Silva, gerente da agência de empregos Humaitá. Segundo ele, do começo do ano para cá a procura por diaristas aumentou em torno de 60%, enquanto a busca por domésticas mensalistas caiu em mais de 40%.
Fernanda Silva, diretora da empresa Diaristas Express, afirma que a procura está grande – tanto por parte dos clientes, quanto por parte das diaristas. “Nossa carteira de diaristas e clientes cresceu em cerca de 20% desde a divulgação do PEC”. Ela acredita que os clientes preferem o serviço de um dia por não terem obrigações legais com a diarista e garante que, mesmo com a alta procura, a qualidade do serviço prestado por sua empresa não irá cair.

De olho no futuro
Segundo a Presidente Eliana Menezes, o Sindicato das Domésticas está preparando uma lista com mais de 50 itens sobre relações trabalhistas a serem discutidos com empregadores. Para ela, as regularizações indicam que o Brasil está avançando no reconhecimento do trabalho das domésticas. “A empregada não tinha uma carga horária, não tinha tempo pra sua família, nem para o lazer”.
No emprego anterior, Cleusa não tinha qualidade de vida. “Como eu dormia na casa da patroa, trabalhava da hora em que acordava até a hora em que ia dormir. Meu ‘momento de folga’ era quando precisava ir ao médico”.









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